11 julho 2017

Do silêncio (post repescado com actualizações)

Fui buscar ao site Essejota [na altura site da Companhia de Jesus em Portugal] este pensamento, publicado ontem, 1 de Agosto [de 2008]. O silêncio é um tema que me encanta, sobre o qual gosto de ler e de pensar. A minha vida dos últimos anos foi atravessada, aqui e ali, por momentos de grande parcimónia na utilização das palavras - ditas ou ouvidas. Foram tempos reconfortantes, de olhar para dentro e para fora, de escutar vozes que só nós ouvimos, de proferir frases que mais ninguém ouve; foram alturas esmagadoras, em que o que não se dizia tinha um peso infinitamente doloroso, constrangedor, revelador de um incómodo que era filho do diálogo que já não existia. O silêncio é, de facto, uma ferramenta poderosíssima, capaz do melhor e do pior. Assim eu soubesse usá-la para os fins mais elevados.

O silêncio é um valor inestimável. Sem silêncio não se ouve e ainda menos se escuta. O homem que não se escuta a si próprio, desconhece-se. O que não tem espaço e tempo para meditar, para ouvir o significado dos sons e das palavras, anda neste mundo a reboque, sem leme. Só no silêncio é possível descobrir outros sinais de comunicação. Aproveitemos este tempo de férias para fazer silêncio. O silêncio é o segredo de uma melhor comunicação.

(Vasco P. Magalhães, sj)

***

Há coincidências, mesmo que esta não seja significativa. Este sábado vinha de Coimbra com um amigo e colega de direcção da Acreditar. Falámos de temas diversos como as minhas aulas, o meu doutoramento, a pintura dele e o livro que ele está a terminar. Falei-lhe de silêncio, um tema que me interessa desde há muito (e a citação de um post com nove anos é bem sintomático...) e que quero abordar na tese. Ontem ao pesquisar, já a horas tardias, o que postar preguiçosamente hoje, deparei-me com o referido post. Ontem, ainda, li um texto muito interessante na revista Brotéria dedicada aos 100 anos das aparições de Fátima, intitulado: "da Religião à Oração: uma reflexão sobre a Fé e o Lugar de Fátima" [João J. Vila-Chã, in Brotéria, Maio / Junho 2017]. E cito:

No seu silêncio, o homem deixa de olhar para as coisas, para os nomes e problemas do mundo a partir da perspetiva do conceito ou da conceptualização apenas. Nesta forma de oração, portanto, deixa-se cair por terra o ideal de posse ou do ser possuído. São os próprios instintos e as suas moções que se tornam silenciosos. A pessoa que reza precisa de se tornar em sua inteireza silêncio e serenidade. Como diria o grande místico que foi o Mestre Eckhart, trata-se mesmo de aprender a ser igual ao Nada.

JdB


2 comentários:

Anónimo disse...


E o que é o nada se ao enunciá-lo ele deixa de o ser...tal e qual o silêncio...

Anónimo disse...

Bonito filme - A Vida é Bela...

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