14 agosto 2017

Livros dos dias que correm

A crer como certo o que consta da badana, li o livro com 40 anos de atraso. De facto, se "[n]unca perdendo a actualidade, continua a fascinar o público jovem sendo livro de cabeceira há já várias gerações", está correcto, Siddharta, de Hermann Hesse, chegou às minhas mãos quatro décadas depois do que devia. Não decidi perseguir tardiamente a juventude - isso seria ridículo em mim, muito em particular, que nunca fui jovem e que vive relativamente bem com a sua idade.  Na realidade, o livro foi-me sugerido por via da minha tese de doutoramento. 



Não sei se Siddartha é um livro para o "público jovem". Não sei, sequer, a que faixa etária pertence este público: 16? 18? 25? E são os jovens em 1978 (quando eu tinha vinte anos), ou são os jovens de agora, com todas as diferenças de uma geração para outra? Siddartha fala de despojamento, da pobreza que, por ser opção, não implica dificuldades, da felicidade de viver sem nada a não ser de uma banana por dia e de um rio que diz coisas sábias. 

- Muito bem, E o que tens tu para dar? O que aprendeste, o que sabes fazer?
- Sei pensar. Sei esperar. Sei jejuar.
- Isso é tudo?
- Penso que é tudo.  

Talvez, como no filme e, penso, numa música, a vida esteja ao contrário, e os rios devessem correr do mar, não para ele. Talvez fosse mais proveitoso ler Siddartha aos 20 anos - mas com o entendimento dos 60. Não estou certo do impacto perene da leitura deste livro numa juventude que, muito naturalmente, não sabe o que é despojamento, não sabe o que é querer viver com pouco, porque com muito pouco se pode viver muito bem; uma juventude que não quer prescindir da tecnologia, dos carros, da carreira ou das roupas ou das viagens de puro lazer.

Pensar, esperar, jejuar. Um bom programa, mas um programa difícil, qualquer que seja a idade. 

JdB


1 comentário:

Anónimo disse...

Magnifico texto!!

Abr
fq

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